Academiemos
Ultimamente ando borocoxô: dor nos quartos, nas juntas. O espinhaço estalando, uma fisgada aqui, outra ali, fastio na mesa, na cama pior ainda... A mulher não aguentou e soltou o berro : procure um médico infeliz, para que ele dê jeito nessas suas crecas, e você pare de viver feito zumbi zanzando de um canto pro outro dentro de casa. Acabei dando ouvidos à minha meiga esposa.
O médico me passou uma relação de exame para fazer que que mais parecia o relatório das exigências da FIFA, para a realização da Copa no Brasil. Depois de doze horas sem comer, três dias sem goró, sem andar de bicicleta e uma eternidade sem fazer sexo, me descambei para o sangradouro mais próximo de casa e fui fazer os exames.
Horas depois, uma simpática moça pede para eu acompanha-la. No local da sangria havia coletor que não acabava mais. Assustado indaguei: isso aqui é o almoxarifado ou vocês estão fazendo mutirão? Ela respondeu: nenhum, nem outro, é para atender ao pedido do seu médico. Lascou! Pensei comigo mesmo. A simpática mocinha acha a BR3, crava a agulha e arranca todo sangue do meu corpo, deixando o suficiente para eu aguentar voltar para casa. Para aliviar a culpa, ela me oferece um copinho de chá e três bolachinhas de avião.
O médico lia o resultado ao tempo que torcia o nariz, retorcia a boca, passava a mão no rosto, sacudia a cabeça como se não gostasse do que via. Aflito, perguntei : não acha melhor eu ligar logo para a Pax Nacional para adiantar o expediente?
Calma, Senhor! Enquanto houver vida, há esperança! Inda lhe restam duas alternativas.
Duas? Então não estou assim, tão lenhando como a mulher pensa.
Claro que não!
Quais são as opções, Doutor?
A primeira é fazer ginástica, muita ginástica, andar, correr. Vai ter que frequentar academia sete vezes por semana.
Ótimo! Serei o acadêmico mais assíduo da paróquia, Doutor.
Isso é bom!
E a segunda opção, Doutor?
Caixão e vela preta!
Virgem Maria Santíssima! Cruz Credo! Vire essa boca pra lá, Doutor!
Você é quem decide, a vida está em suas mãos: academia ou caixão e vela preta.
Hum, hum, hum, hum, hum! Deus é mais!
NA ACADEMIA.
Professora, têm halteres menores e aparelho mais leve?
Esses são os mais leves, Senhor.
E esse relógio está funcionado direito?
Claro! Funciona perfeitamente!
É que já têm mais de três horas que estou nessa esteira e ele só registrou 5 minutos até agora.
É assim mesmo, Senhor. Nos primeiros dias de academia a sensação térmica psíquica-motora é atemporal, depois de 3 anos ininterruptos de ginástica, o cerebelo desacelera o processo de temporização até o sincronismo real com o tempo.
Ah, sim! Certo! Agora entendi a razão. Obrigado, pela explicação!
Não há de quê!
Pagode? Vocês estão tocando pagode aqui?
É o melhor estilo musical que inventaram até hoje.
Não dá para tocar outra música?
Não pode! Aqui, o cliente é quem escolhe a música.
Sobe a bundinha nené, levanta a bundinha nené, é música de pedófilo.
Essa música que está tocando não pode ser trocada, temos clientes que só malha ouvindo essa música.
São líderes religiosos?
Não sei lhe informar, Senhor! São clientes!
Olha, mudou a música: ai mainha, tá gostoso mainha, vixe mainha, tá bom demais. Essa música é clara exaltação ao incesto.
Como disse, Senhor, é o cliente quem pede.
Autor de novela de televisão ?
Não sei lhe informar, Senhor! São clientes!
Escuta! Escuta! “Abra a tampa da fusqueta que eu faço você gemer”. Que expressão grosseira e obscena é essa? Misericórdia! É putaria pura!
Como disse, temos clientes que só malha ouvindo essa música.
Música? Confundiu essa coisa com música? Quem malha ouvindo essa imoralidade são os beatos donzelos ou maníacos sexuais que fugiram da penitenciaria?
Não sei lhe informar, Senhor! São clientes!
Podemos passar para a ala frequentada por família?
A ala que temos é essa, Senhor!
Ah, sim! Certo! Tudo bem! Fiquemos aqui.
E então, Senhor!
Estou pensando.
(Minutos depois)
Decidiu?
Decidi!
O Senhor prefere assinar por um mês, um trimestre ou um semestre?
Sinceramente?
Sim! Sinceramente!
Eu prefiro Caixão e Vela preta, minha rainha!
Vitória da Conquista, Bahia, 25 de janeiro de 2014. |