Temos Papa

Difícil Escolha

Caso Bruno

Yoani Sánchez

Yoani Sánchez II

Yoani Sánchez

Yoani Sánchez II

Feliz Aniversário

O Discurso

O Tempo e o Espaço

Rubião, Cabra Macho

Como Viver Bem

O Paciente

Na Sinuca

Véi e Carro Véi

Gramticando

Divino e Maravilhoso

Futebol

Diálogo, Pai e Filho

Tiririca

Caetité

E a Vida Continua...

A Esperança

Festa de Arromaba

O Paciente

–Azelma, o próximo!
–Bom dia Doutor!
–Bom dia! Que mal lhe acomete?
–Solidão, Doutor! Muita solidão!
–Pelo o que consta aqui, o Senhor é um homem casado!
–Correto, Doutor!
–Então, você sofre de solidão sem ser solitário?
–Exatamente!
–Seu caso é mais grave do que eu pensava. Pode passar mais detalhes ou ser mais claro?
–Estou sendo ignorado, Doutor.
–Oxente! Então seu problema não é solidão, é desprezo.
–Mais ou menos.
–Dá para explicar melhor?
–Não é dor de cotovelo nem de traição,é a dor da solidão, Doutor! Há uns meses atrás minha mulher só tinha olhos para a “Avenida Brasil”, agora apareceu esse tal “Salve Jorge”!
–Mas isso é novela! A sua solidão resume-se em poucas horas do dia?
–É o que pensa, Doutor. Depois da novela minha mulher gruda no telefone e começa resenhar com as amigas o capítulo inteirinho madrugada adentro.
–Mas durante o dia não tem novela!
–Durante o dia a mulher fica na internet em busca de informação e fofocando com as amigas até começar a novela de novo.
–Mas, aí, já é noite!
–Exatamente!
–Então quem está doente é ela!
–Também acho, mas quem pena sou eu!
–Amigos! E amigos? Não tem amigos?
–Sou amigo de uma infinidade de gente boa...
–Então?
–Mas eles não são meus amigos, são amigos do Mengão, do Vascão. 
–Mas quando o assunto de futebol esgota deve sobrar um tempinho para o bate papo.
–Bate papo? Eu diria tempinho para as sessões das lorotas, um verdadeiro festival de mentiras, todos arrotam grandeza, que comprou carro com mais de trezentos cavalos, salário astronômico, apetite sexual do cabrunho, o mais modesto afirma fazer sexo três vezes ao dia, todos os dias, com mulheres diferentes e a mais feia é mais bonita que Juliana Pães. 
–Nossa! Seus amigos são cabras retados. Por que você não faz igual a eles?
–Eu?! Quem dera, doutor... Era meu sonho. Um pobre coitado como eu, com umazinha por semana e com muito pelejar, fico acanhado em dizer e a galera cair matando. 
–Não, rapaz! Faça igual a eles, minta também!
–Ah, sim! Até que dá certo, mesmo. O problema é passar a gostar de mentir igual a turma. Mentira é com eles mesmos. Não garantem o que falam; mentem com uma facilidade espantosa; não assume os compromissos, não responde os e-mail, na realidade, a mentira torna-se maior que a pessoa, como mentira é uma coisa que não existe, elas também não existem e passam ser um espectro humano. 
–Nossa Senhora, você está complicando demais a coisa. Radicalizou! Facebook! Sim, Facebook! Pronto, é a salvação e a solução!
–Facebook! Queta com Facebook, Doutor. Faz calo no calcanhar de Aquiles. É prosa ruim demais! Ninguém desenvolve uma idéia, ninguém discute um tema, é uma ostentação da gota serena,uma confirmação chata de convicções, uma babaquice com esse negócio de Jesus te ama, uma frescura que Deus é fiel, que Deus é amor. Uma bajulação arretada com o prefeito e pessoas ricas, é um saco. Sem contar a debiloidice do“kkkkkkkkkkkkk “ , “rsrsrsrsrsrsrsrsr”.
–Nossa Senhora do Perpétuo socorro, pra você nada no mundo presta. Tá demais da conta. Tô lenhado, sinto-me limitado, e vejo a psicologia de pouca serventia.
–Então minha doença não tem cura, Doutor?
–Calma! Vamos devagar! Apesar dos pesares vejo uma luz no fim do túnel e tenho solução para o seu problema.
–Que alívio! Graças a Deus, doutor! Quais são?
–Paciência! Não são tantas assim, apenas duas!
–Ih! Então mande a primeira!
–A mais difícil. Você vai ter que se imbecilizar ao máximo para voltar ao convívio social.
–Cruz Credo, ave-maria três vezes. Como farei isso?
–Primeiramente você começa assistindo televisão. Assista novela também junto com sua mulher. O programa do Ratinho, as pegadinhas de Silvio Santos e vai se involuindo...
–Tá dando! É difícil, muito difícil!
–Isto é só o começo!
–E depois?
–Faça o teste de seu grau de involução assistindo ao Big Brother!
–Aí pegou pesado! Não vou conseguir!
–Tente, assista ao menos um minuto.
–É tempo demais, e se eu conseguir qual é o outro passo?
–Quando você conseguir assistir o programa por inteiro, passe para o Pânico na TV.
–Lascou errado! Deixa queto! Vou pra casa.
–Calma! Calma! Eu explico!
–É nauseante! Prefiro minha solidão das noites úmidas a esse martírio!
–Se tiver paciência eu lhe explico. Ligue a televisão e leve para a poltrona uma caixa de sonrisal e outra de epocler para o mal estar.
–Danou-se!
–Não desista! Você vai conseguir. 
–Se eu conseguir essa proeza estarei curado?
–Bem... Mais ou menos, depois vem o segundo passo.
–Espero que não seja tão tenebroso assim. 
–Um pouco pior.
–Diga logo, Doutor! Estou preparado.
–O próximo passo é ouvir música.
–Não é tão ruim assim.
–Mas é do Trio da Huanna, Banda Katulê, Banda Psirico, Asa de Águia...
–Mãe de Deus! É de arrombar o cano! Não dá!
–Nada na vida se conseguem sem esforço.
–Do jeito que tô vendo, haja esforço. E quando é que vou ficar curado?
–Quando você conseguir ouvir a música vai no cavalinho do início ao fim, sem interrupção, você estará apto ao convívio social. Não vai mais sentir solidão, vai estar imbecilizado por completo.
–Impossível, Doutor! Nem toda força de vontade do mundo vai me socializar a ponto de conseguir ouvir música desse gênero . Prefiro a segunda opção.
–A segunda opção é mais complicada, é um remédio de dose cavalar e o efeito colateral é de lascar o cano.
–É eficiente, Doutor!
–É tiro e queda.
–Então mande o danado! Tem nome? 
–Tem e é todo invocado, “A Viagem”. A caixa vem com uma única cápsula de 38 mg.
–Comprimido grande desse jeito deve ser muito eficiente!
–E é!
–Como é que se toma isso, Doutor, com água ou com leite?
–Com tauros!!
–Virgem Maria santíssima, o metabolismo é na hora! E depois, Doutor , o que faço?
–Depois? É caixão e vela preta e o seu caso está solucionado, nunca mais vai sofrer de solidão!
–Solução fácil para uma decisão difícil, Doutor!
–Se o fato de voltar ao convívio social lhe causa uma dor maior, a solução que achei foi essa.
–De qualquer maneira obrigado, Doutor! Fazer o quê? Passe a receita pra cá, amanhã tomarei esse medicamento para ver se, realmente, é eficiente.
–Inda bem que você é um homem decidido. Que seja feliz no seu novo Mundo. Passe bem! Adeus! Azelma, o próximo!
Fim


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